Perecível ao tempo

O idílico mundo dos jornalistas

Posted on: 22/11/2011

Ahhh, as utopias! O que seria de mim sem elas?

O que eu seria, não sei, só sei que não seria jornalista.

Sim, sou a moça boba que acredita que é possível mudar o mundo através de palavras. Escrevo porque creio que de minhas mãos sairá o texto que vai acabar com as injustiças do mundo, com a fome dos miseráveis, com as mortes impunes, com a roubalheira comum em Brasília e nos quatro cantos desse país.

Mas não escrevo apenas para realizar as utopias com as quais sonho. Escrevo porque há muita realidade para se contar. Há muita vida para se narrar. Tantos Josés e Marias espalhados por aí… É preciso penetrar nos rincões mais secretos e mostrar quão hercúleo é o esforço dos nossos Quasimodos.

Quero ser repórter porque também sonho em contar as histórias comuns. As histórias de quem vive, e pelo simples fato de viver, faz história. Gente que faz do dia a dia, sua guerra particular.

Quero contar contos singelos. Aqueles que dão esperança e inspiram a persistência, a resistência. Coisas simples e banais, que são mágicas, por serem simples e banais.

Ambiciono tudo isso, porque sou feita do mesmo pó que essa gente com qual sonho. Porque meus dias são de luta, dariam livro ou renderiam capa de revista. Porque já fiquei sem ter o que comer. Porque já fui despejada de casa. Porque já fui despejada do apartamento. Porque já tive que faltar aula por não ter o dinheiro da passagem. Porque tive os pertences mais íntimos confiscados. Porque já tive que dormir no chão gelado, tomar banho frio e implorar por um teto para uma desconhecida na fronteira.

Mas também porque o Hércules que há em mim já urrou e me fez digna de muitas conquistas. Sou a protagonista que provoca a reviravolta e sai vitoriosa da batalha que parecia incerta. Sou a garota que conheceu outros países, graças ao esforço do próprio trabalho. Sou a tola que obteve a façanha de entrar na universidade pública, mas pode optar pela particular, graças à bolsa do governo. Sou a errante que venceu quilômetros a pé, apenas para ver a “mão de Deus”. Sou a retirante curitibana que só se tornou retirante por voltar pra Curitiba. Sou a menina que já amou demais, e pagou caro por isso.

Sou só mais uma brasileira, e é isso que me faz sonhar ser capaz de contar a história de tantos outros brasileiros.

5 Respostas to "O idílico mundo dos jornalistas"

Caramba, que texto bom!
Adorei as figuras de linguagem, o estilo de escrita simples e diferente ao mesmo tempo, cheio de elementos surpresa que fazem a leitura fluir.

Quer saber, há muito tempo não me emociono tanto com um texto. Fez lembrar de mim, e é claro, me fez enxergar que nossa parceria no tcc reflete exatamente o que sentimos com relação ao jornalismo. Eu não teria expressado tão bem estes sentimentos. Parabéns por ser tão inteira. Bjs

Ailime, sua sinceridade e força me envolveram. Penso no jornalismo como você e acrescento até que todas as fases difíceis que vivemos servem para nos lembrar: é preciso amar a vida e lutar por ela. Acredito que no jornalismo sentimos a vida plenamente e não vejo poder mais belo, e perigoso, do que o da palavra.

Abs,

Mayara (aqueeela da oficina rs)

Minha flor, teu texto (ou seria crônica?) me lembra o estilo de um escritor espanhol, Carlos Ruiz Zafón, esse cara tem uma delicadeza e uma sensibilidade qdo escreve, e al msm tempo uma força q te apaixona e te prende desde a primeira pagina, se puder leia La Sombra del Viento, vc vai adorar. Ele escreve (como diria eu) como se suas histórias fossem “poesia cruda”, como o seu texto, q fala de vc de uma maneira mt poética mas mt honesta. Tem q ser corajosa pra se mostrar tanto. Parabéns!!

Ailime, adorei te ler. Que bom que tivemos essa oportunidade com a Eliane Brum. Sucessos vários! Abraços!

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